REFLEXÕES SOBRE A MILITÂNCIA POLÍTICA - KARL JENSEN


O movimento socialista possui uma história secular e um tema fundamental para seu aperfeiçoamento, enquanto movimento revolucionário, é a questão da militância política. Entretanto, tal tema ficou à margem do rio do pensamento socialista. Discutir a militância política e, como consequência, a questão dos militantes revolucionários, se tornou, com a atual crise do movimento comunista mundial, uma necessidade inadiável. Tentaremos, aqui, dar um primeiro passo nesse sentido, oferecendo uma contribuição a esta questão. 

MARXISMO E PSEUDOMARXISMO


O marxismo é expressão teórica e política do proletariado revolucionário (KORSCH, 2008; VIANA, 2008), enquanto o pseudomarxismo tem sua origem, fundamentalmente, no final do século XIX, quando da emergência dos partidos políticos sociais-democratas e nos interesses políticos que os mesmos passaram a representar, quer dizer o interesse da burocracia (partidária) como classe social e o progressismo burguês que lhe é próprio (evolucionismo, darwinismo, kantismo), além de múltiplas outras determinações, tal como, à época, o desconhecimento de muitos sobre a dialética, tanto a hegeliana, quanto a marxista, o que levava à uma mescla de materialismo burguês (iluminismo e positivismo), a publicação e tradução tardia de análises importantes, tal como as presentes em A ideologia alemã, a dificuldade de compreensão dos leitores e intérpretes da época, a deformação inicial realizada pelo próprio Engels em Dialética da Natureza (1979); contribuindo, assim, para transformar “o pseudomarxismo num poder histórico de primeira grandeza, pôde enganar a maior parte dos acadêmicos, bem como seus adeptos políticos, e tornar-se para a maioria das pessoas o único (pseudo) marxismo que conheceram” (HARRINGTON, 1977, p. 38-39 – parênteses nossos).
A emergência da ideologia pseudomarxista tem múltiplas determinações, todavia sua determinação fundamental decorre de sua perspectiva de classe. Os primeiros passos constituintes dessa ideologia foram dados através de alguns escritos do próprio Engels (1979), após a morte de Marx, sistematizando uma interpretação “positivista-hegeliana da dialética marxista” (VIANA, 2019), bem como com sua maior aproximação do pseudomarxismo socialdemocrata, inicialmente sistematizado por Karl Kautsky.
A asserção central de Kautsky sobre a “transformação social” perpassa a defesa da chegada ao poder do estado via eleições parlamentares e a realização de reformas sociais condutoras do socialismo; nada tão distinto das asserções burguesas, pois para ele “a sociedade ‘socialista’ ou, em outras palavras, a consequência lógica do desenvolvimento da produção mercantil, não passava de um sistema capitalista de Estado” (MATTICK, 1988, p. 29). O fundamento da socialdemocracia é a substituição do proletariado como agente revolucionário pela burocracia dirigente do partido (socialdemocrata).

REVISTA ENFRENTAMENTO, VOL. 26, NUM. 26


Acaba de ser publicado o novo número da Revista Enfrentamento, uma publicação do Movaut - Movimento Autogestionário. Esta edição traz o dossiê temático "Nem fascismo, nem antifascismo: a perspectiva proletária". Do editorial:

"Estes textos têm a intenção de lançar luzes ao conjunto de informações e análises que estão sendo feitas acerca do suposto “fascismo” presente no governo de Jair Bolsonaro. Todo o bloco progressista e até mesmo setores oposicionistas ao governo do bloco dominante estão a gritar por todos os meios que o governo Bolsonaro é fascista. Estão a tentar criar, sobretudo o bloco progressista, um suposto movimento antifascista. Os textos aqui presentes têm em vista criticar tanto o dito fascismo de Bolsonaro, quanto a espelunca antifascista em vias de formação no Brasil. Contudo, não se trata de crítica pela crítica, mas sim de crítica revolucionária, ou seja, que visa fazer prevalecer os interesses de classe do proletariado e demais classes inferiores. A tese que perpassa todos os textos presentes no dossiê é: o fascismo atribuído a Bolsonaro é discurso falacioso e o antifascismo que se opõe a este suposto fascismo é engodo. Engodo para a classe operária e seus interesses de classe. Mas, para o bloco progressista, o tal antifascismo é bem conveniente, pois: a) elimina a presença da classe operária e demais classes inferiores com suas organizações, consciência e interesses; b) faz prevalecer somente o ponto de vista democrático, ou seja, de defesa do assim chamado estado democrático de direito com suas instituições (estado, partidos, etc.) e processos políticos, sobretudo o eleitoral, que é o que mais convém ao bloco progressista."

A ORGANIZAÇÃO DOS CONSELHOS OPERÁRIOS

O sistema social aqui tratado poderia ser designado por comunismo não fosse o caso de esta palavra ser utilizada na propaganda mundial do “Partido comunista” para denominar o seu sistema de socialismo de Estado, sob uma ditadura do partido. Mas que importa um nome? Sempre se abusou dos nomes para enganar as massas; os sons familiares impedem-nas de pensar duma forma critica e de apreciar a realidade com clareza. Portanto, em vez de procurarmos o nome que mais convém, será sim de maior utilidade examinar mais de perto a característica principal do sistema: a organização dos conselhos.

https://redelp.net/revistas/index.php/rma/article/view/6pannekoek3/304

A POLÍTICA REVOLUCIONÁRIA CONCRETA